23.3.12

1. apresentação


“A filosofia dos Antigos procurava formar um homem sábio que se mantivesse idêntico a si próprio, querendo sempre a mesma coisa mediante a coerência consigo mesmo e a rejeição do supérfluo.
(…)
O homem muda ao longo de toda a sua vida e não esperamos da nossa existência sempre as mesmas satisfações. Isto significa que uma filosofia da felicidade terá forçosamente de ser desunificada e pluralista: uma filosofia mais ecléctica do que céptica, mais mutável do que definitiva.”*

A partir da obra de Gilles Lipovetsky, A Felicidade Paradoxal, considerando as temáticas que constam do programa da disciplina de Design de Comunicação 5, pretende-se através desta plataforma efectuar uma reflexão em volta da felicidade, tendo como objectivo procurar compreender aquilo que constrói a felicidade humana nas sociedades ocidentais contemporâneas hiperconsumidoras. De que formas esta é procurada e como é atingida; aquilo de que depende, a relação do consumo nesta sociedade e aquilo que isso significa, o que contribui para a felicidade e o bem-estar do indivíduo: a dependência crescente de bens materiais e marcas, a posse do último produto de tecnologia de ponta, a ambição desenfreada do ter, o possuir, para, gozando de mais objectos, estarmos mais realizados e sermos mais felizes. “Se o consumo não é sinónimo de felicidade, também não o é, muitas vezes, fonte de verdadeira satisfação.” *
Ainda que, segundo Aristóteles, o homem feliz tenha a necessidade de desfrutar sem dificuldade de diferentes bens exteriores, verifica-se que o indivíduo vive, além disso, para mais que os bens materiais passageiros: os ideais de amor, verdade, justiça, altruísmo não se dissolveram. *
De que forma o bem-estar material se conjuga com a vida feliz? Em que consiste essa vida feliz? Sobreviverá a felicidade do indivíduo à ausência de um bem-estar material?
Desejos/impulsos/vontades momentâneas, em que contribuem para a felicidade? O que implica a conquista da felicidade? Quais as causas da constante insatisfação humana? Qual a relação entre o prazer e a felicidade?
Bertrand Russell, afirma em A Conquista da Felicidade que “o homem que adquire facilmente as coisas pelas quais sente apenas um desejo moderado, conclui que a realização do desejo não dá felicidade. Se tem disposição para a filosofia, conclui que a vida humana é essencialmente desprezível, pois o homem que tem tudo o que precisa ainda assim é infeliz.”
De forma a atingir este propósito, recorrer-se-á a diversos autores de épocas distintas, para compreender, de alguma forma, a importância da felicidade – e aquilo que é necessário à sua construção – e conhecer as reflexões destes pensadores relativamente ao assunto em questão, dadas as suas diferenças culturais, geracionais e históricas.
Começando este estudo naturalmente pelos pensadores clássicos gregos e romanos, como Aristóteles, Platão; Epicuristas e Hedonistas, serão utilizadas referências de outros autores que, directa ou indirectamente se ligam a esta questão: Albert Camus, Bertrand Russell, Soren Kierkgaard, Jeremy Bentham, Arthur Schopenhauer, Sigmund Freud, Blaise Pascal.

(*) Gilles Lipovetsky, A Felicidade Paradoxal