6.6.12

[para terminar]



"E também cinco raios de sol que derramam pacientemente na sala um perfume de ervas secas. Uma brisa, e as sombras animam-se sobre a cortina. Que uma nuvem cubra e depois descubra o Sol, e da sombra emerge o amarelo brilhante deste vaso de mimosas. É bastante: um só vislumbre nascente, eis-me cheio de uma alegria confusa e surpreendente. É uma tarde de Janeiro que me põe assim em frente ao avesso do mundo. Mas o frio permanece no fundo do ar. Por toda a parte uma película de sol estalaria com uma unhada mas que reveste todas as coisas de um eterno sorriso. Quem sou eu e que posso eu fazer senão entrar no jogo das folhagens e da luz? Ser esta luz em que o meu cigarro se consome, esta doçura e esta paixão discreta que transparece no ar. Se tento atingir-me, é mesmo no fundo desta luz."


Albert Camus,
O Avesso e o Direito.
Holz [madeira, lenha] é um nome antigo para Wald [floresta]. Na floresta [Holz] há caminhos que, o mais das vezes sinuoso, terminam perdendo-se, subitamente, no não-trilhado.
Chama-se caminhos de floresta [Holzwege].
Cada um segue separado, mas na mesma floresta [Wald]. Parece, muitas vezes, que um é igual ao outro.
Porém, apenas parece ser assim.
Lenhadores e guardas-florestais conhecem os caminhos. Sabem o que significa estar metido num caminho de floresta.


Martin Heidegger, Caminhos de Floresta

John Stuart Mill: Sobre a Liberdade

“A liberdade do indivíduo tem de ter essa limitação; não pode prejudicar as outras pessoas. Mas se se abstém de importunar os outros no que lhes diz respeito, e age meramente de acordo com a sua própria inclinação e juízo em coisas que lhe dizem respeito, então as mesmas razões que mostram que a opinião deve ser livre provam também que lhe deve ser permitido agir com base nas suas opiniões a seu próprio custo sem ser importunado.”

"A liberdade não é uma propriedade da natureza ou essência humana." Pertence à estrutura do ser consciente. "Aquilo a que chamamos liberdade é, pois, impossível de distinguir do ser da 'realidade humana' "
O ser-em-si, opaco, sem consciência, não é livre. O para-si, separado do ser, não pode ser determinado pelo ser: foge à determinação do ser-em-si e é essencialmente livre.
A liberdade pertence à própria estrutura do para-si; não podemos escolher entre ser livres ou não: simplesmente somos livres pelo próprio facto de sermos consciências.
(1)


"A liberdade espontânea do eu, que não tem a preocupação da sua justificação, é uma eventualidade inscrita na essência do ser separado: de um ser que já não participa e, nessa medida, que tira de si próprio a sua existência, de um ser que vem de uma dimensão da interioridade, de um ser conforme ao destino de Giges, que vê os que o olham sem que eles o vejam e que sabe que não é visto."
(2)



"A verdade é misteriosa, perigosa, fugitiva, sempre por conquistar. A liberdade é perigosa, tão dura de viver como excitante. Devemos caminhar para estes dois fins, penosa mas resolutamente, antecipadamente certos dos nossos desfalecimentos em tão longo caminho."
(3)



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(1)
Jean Paul Sartre
Jean-Paul Sartre - Colecção Grandes Filósofos, LisboaEdições 70, 2008
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(2)
Emmanuel Levinas
LEVINAS, Emmanuel, Totalidade e Infinito, Lisboa, Edições 70, 1980
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(3)
Albert Camus
Discurso de 10 de Dezembro de 1957, na Câmara Municipal de Estocolmo

Gilles Lipovetsky: A Felicidade Paradoxal


Em “Felicidade Paradoxal”, Lipovetsky define, num determinado ponto, cinco grandes padrões nos quais, nas nossas sociedades, o prazer e a felicidade são comandados. Dos cinco modelos, os primeiros quatro foram explorados.

José Marinho: Teoria do Ser e da Verdade

I .  Da visão unívoca

Aquele a quem foi dado ser plenamente como o em que se nega todo parcial ser, como o que vê e, no ver do que é, infinitamente ultrapassa todo ver e saber finito, esse, no mesmo instante em que frui a mais pura alegria, sabe para sempre toda a verdade.
E não é então seu ver conhecimento, pois este supõe diferença entre ser e verdade, ou, como incompleta e imperfeitamente se diz, entre ser e saber: conhecimento implica e significa a distância e incoincidência real ou sempre virtual. O que vê o ser como o que o é, o a quem foi dado ver sem distância, o que sabe do mais puro saber, vê e sabe a verdade toda na verdade: nem há, para ele, distância alguma de algum ser para ser, de alguma verdade para a verdade e saber a verdade, nem tal tem nele e para ele sentido algum.


V . Da Liberdade Divina

“A liberdade é o próprio espírito, por nós com renovado intento e nome designado insubstancial substante quando este se conhece e reconhece na plenitude cumulativa da cisão e da visão unívoca.
É a liberdade, primeiro, para todo o ser e toda a verdade, mas na aceitação da necessidade e de todo o necessário. Esta poderia dizer-se a liberdade secreta e oculta ainda na primeira idade do homem, e no primeiro grande ciclo da cumulativa implicação e explicitação do ser, se todo o para nós manifestado, enquanto ser de tempo, história e evolução, fosse em si e por si verdade.
(...)
Tal, entretanto, o aludido primeiro estádio de todo o ser para o homem e do homem para si quando a visão unívoca desponta, com seu limite, do pressuroso ser. Então, dizemos, a liberdade é logo no único necessário, no que a nega, ou no por que se nega todo o outro. Eu, que verdadeiramente não sou, só enquanto me nego, e enquanto o meu ser se nega em seu limite, assumo a liberdade.

5.6.12

[ sobre Lipovetsky e o Luxo Eterno ]


[ TED ]

De beata uita, Diálogo sobre a Felicidade


O Diálogo sobre a Felicidade foi dedicado por Agostinho de Hipona, no dia do seu aniversário, ao seu amigo e mestre Teodoro: