27.5.12

"A falta de liberdade não consiste jamais em estar segregado, e sim em estar em promiscuidade, pois o suplício inenarrável é não se poder estar sozinho."


Fiódor Dostoievski, Recordações da Casa dos Mortos

22.5.12

Antes viver assim

hoje, no Público, em Ainda Ontem, de Miguel Esteves Cardoso:


Sabemos que perdemos tempo a ter medo do que pode acontecer e que o tempo que passamos preocupados podia ser ocupado por coisas que gostamos mais de fazer.
Mas, se calhar, não é tempo perdido. Para quem o perde por não conseguir fazer outra coisa, até parece tempo bem passado, passado a pensar no que merece.
Li nuns artigos que a distracção, quando se está gravemente doente, até encurta a sobrevivência e, enquanto se sobrevive, abre mais os braços à depressão.
Dizem-nos para pensar noutras coisas - mas não basta dizer. Quando pensamos noutras coisas, é bom, mas acontece por acaso. E, quando voltamos a pensar naquilo que nos preocupa, o choque é maior.
A distracção paga-se. Há vantagens em estar sempre a remoer. Para já, é o que apetece fazer. Não requer esforço. É espontâneo. É natural. É pena isto soar como um anúncio de uma água mineral. Mas a água da torneira, trabalhada e limpa, artificialmente distribuída em canos, é que é estranha. É boa, faz sentido e faz bem - mas é artimanha. 
As águas das nascentes, que brotam onde brotam, é que são naturais. Irradiá-las, filtrá-las, engarrafá-las e distribuí-las já não tem nada a ver com elas.
Assim é com a preocupação. É uma espécie de sangue. Não pensar no futuro e viver dia a dia será assim tão inteligente? É o que fazem os estúpidos dos animais, que vivem no presente mas morrem pouco depois, depois de uma vida de paranóia, sustos constantes e medos sem fundamentos. Antes viver assim.

19.5.12

O Amor


“O amor tende nas sociedades humanas a ser separado da mera satisfação do instinto sexual, que em todo o caso se reveste de formas culturais. Se o amor se manifesta como um comportamento interpessoal, a escolha do objecto, geralmente ligada a papéis sociais além de biológicos, faz-se por intermédio de um código que é o do grupo ou das classes a que se referem os sujeitos da relação amorosa.”(1)

14.5.12

Livro VII
49 - Se pusermos os olhos no passado, depois em todas as mudanças do presente, podemos antecipadamente assistir ao futuro. Porque o espectáculo será sempre absolutamente idêntico e não há que fugir ao ritmo dos acontecimentos. Por isso, contemplar a vida humana quarenta ou dez mil anos é uma e a mesma coisa. Que mais poderias tu ver?


Marco Aurélio, Pensamentos

Ética a Nicómaco: a essência da Felicidade


Em Ética a Nicómaco, após estudar as “diversas formas de excelência”, de amizade e de prazer, o autor esboça os principais traços da felicidade, começando por afirmar que esta é o objectivo da natureza humana.

11.5.12

desejo, prazer e felicidade: Estóicos e Epicuristas


Para Platão, Aristóteles, os Epicuristas e os Estóicos, a questão essencial é: qual o tipo de vida é o melhor, que tipo de vida constitui a ‘felicidade’?


7.5.12

a felicidade dos poetas brasileiros
(...)

Descartes: Desejo


art. 57 - O desejo
Da mesma consideração do bem e do mal nascem todas as outras paixões. Mas, encarando-as, para dispor por ordem, sob o ponto de vista do tempo, e considerando que elas fazem olhar muito mais para o futuro do que para o presente ou para o passado, começo pelo desejo. Porque, não somente quando se deseja alcançar um bem que ainda não se possui ou evitar um mal que receamos, mas também quando se deseja apenas a conservação dum bem ou a ausência dum mal - o que é tudo a que essa paixão se pode estender -, é evidente que ela visa sempre o futuro.



art. 86 - A definição do desejo
A paixão do desejo é uma agitação da alma, causada pelos espíritos, que a dispõe a querer no futuro as cousas que se lhe representam como convenientes. Por isso não se deseja unicamente a presença do bem ausente, mas também a conservação do bem actual; e, além disso, ainda a ausência do mal, tanto do que se tem como do que se julga pode ainda vir a ter.


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RENÉ DESCARTES, As Paixões da Alma

6.5.12

Livro II
1 - Logo ao romper da manhã começa por dizer a ti mesmo: vou encontrar um indiscreto, um ingrato, um insolente, um patife, um invejoso, um egoísta. A origem de todos estes vícios é neles a ignorância do que é bem e do que é mal. Mas tendo eu percebido que a natureza do bem consiste na beleza e a do mal na fealdade e que a natureza do que pratica o mal faz dele meu parente, não por força do sangue ou da geração, mas por virtude da inteligência e duma parcela da divindade - não posso sofrer dano de nenhum deles; nenhum me apontará acção vergonhosa. Não posso, além disso, irritar-me contra o meu semelhante e odiá-lo, porque nascemos para cooperar uns com os outros, como os pés, as mãos, as pálpebras, as duas filas de dentes, a de cima e a de baixo. Proceder como adversários uns dos outros é ir contra a natureza. E é tratar outrem como adversário, enfuriar-se contra ele e desarvorar do pé dele.

Marco Aurélio, Pensamentos

5.5.12

Séneca: "Da Vida Feliz"


Para Séneca, a vida feliz é essencialmente associada ao bem e em conformidade com a natureza (a sabedoria consiste na aproximação com a natureza). 
É necessário ter a alma sã, corajosa, bela, paciente, energética, “cuidadosa do seu corpo e daquilo que lhe diz respeito”, para, então, resultarem a tranquilidade e a liberdade. A vida feliz é uma vida de apaziguamento e grandeza interiores; com um juízo recto e firme, baseada na virtude e na rejeição dos prazeres e, por sua vez, da dor. Tal como foi anteriormente publicado no blogue, o bem, a virtude e a felicidade significam a mesma coisa.
“O homem feliz é aquele para quem nada é bom ou mau à margem de uma alma boa ou má; esse homem pratica aquilo que é honesto e contenta-se com a virtude; os acidentes da sorte não podem nem exaltá-lo, nem quebrá-lo, não conhece bem maior do que aquele que pode dar a si próprio; o seu verdadeiro prazer está no desprezo dos prazeres.”


Sobre o bem:

“O soberano bem é a alma invencível, possuindo a experiência das coisas, calma na acção, com muita benevolência e gentileza para com aqueles que a rodeiam.”

“Procuro de preferência um bem que possa sentir a um que possa expor, aquilo que atrai os olhares, aquilo que se aponta ao outro com uma admiração plena de surpresa, isso brilha por fora, mas por dentro é apenas miséria. Procuremos um bem que não se afirme pela sua aparência, mas que seja sólido, constante, com uma beleza interna e oculta; desenterremo-lo.”


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SÉNECA, Da Vida Feliz, em:

COLECÇÃO GRANDES FILÓSOFOS: SÉNECA (OS ESTÓICOS), apresentação Roger-Pol Droit, Prisa Innova SL, 2008

2.5.12

"Toda a infelicidade resulta de uma desintegração ou falta de integração; há desintegração no Eu por falta de coordenação entre o consciente e o inconsciente; há falta de integração entre o Eu e a sociedade quando os dois não estão unidos pela força dos interesses e afeições objectivas."

Bertrand Russell, A Conquista da Felicidade