6.6.12

[para terminar]



"E também cinco raios de sol que derramam pacientemente na sala um perfume de ervas secas. Uma brisa, e as sombras animam-se sobre a cortina. Que uma nuvem cubra e depois descubra o Sol, e da sombra emerge o amarelo brilhante deste vaso de mimosas. É bastante: um só vislumbre nascente, eis-me cheio de uma alegria confusa e surpreendente. É uma tarde de Janeiro que me põe assim em frente ao avesso do mundo. Mas o frio permanece no fundo do ar. Por toda a parte uma película de sol estalaria com uma unhada mas que reveste todas as coisas de um eterno sorriso. Quem sou eu e que posso eu fazer senão entrar no jogo das folhagens e da luz? Ser esta luz em que o meu cigarro se consome, esta doçura e esta paixão discreta que transparece no ar. Se tento atingir-me, é mesmo no fundo desta luz."


Albert Camus,
O Avesso e o Direito.

Sem comentários:

Enviar um comentário