6.6.12

John Stuart Mill: Sobre a Liberdade

“A liberdade do indivíduo tem de ter essa limitação; não pode prejudicar as outras pessoas. Mas se se abstém de importunar os outros no que lhes diz respeito, e age meramente de acordo com a sua própria inclinação e juízo em coisas que lhe dizem respeito, então as mesmas razões que mostram que a opinião deve ser livre provam também que lhe deve ser permitido agir com base nas suas opiniões a seu próprio custo sem ser importunado.”



Sobre a Individualidade

O grande princípio condutor para o qual todos os argumentos expostos nestas páginas convergem directamente é o da importância absoluta e essencial do desenvolvimento humano na sua mais rica diversidade.
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Wilhelm von Humboldt, Esfera e Deveres do Governo 
[introdução de Sobre a Liberdade]



A individualidade deve-se impor em assuntos que não dizem respeito a outros. Quando as tradições e os costumes regem a conduta humana ao invés de ser o seu próprio carácter, o ser não se desenvolve, quer a nível social, quer a nível individual. Somente a escolha é aquilo que permite ao indivíduo usar as suas faculdades (percepção, juízo, discernimento, preferência moral).

“A finalidade de cada pessoa, ou o que é prescrito pelos mandamentos eternos ou imutáveis da razão, e não sugerido por desejos vagos e passageiros, é o mais nobre e harmonioso desenvolvimento dos seus poderes para um todo completo e consciente; que consequentemente, o objectivo em direcção ao qual todo o ser humano tem de permanentemente canalizar os seus esforços, e ao qual tem de prestar atenção, especialmente quem pretender influenciar os seus semelhantes, é a individualidade do poder e do desenvolvimento”*

É através da individualidade que o ser humano se pode desenvolver no melhor sentido; a individualidade é significado de desenvolvimento; “o génio pode apenas respirar livremente numa atmosfera de liberdade. “Quanto mais cada pessoa desenvolve a sua individualidade, tanto mais se torna valiosa para si própria, e pode por isso ser mais valiosa para os outros. Há uma maior plenitude de vida na sua própria existência, e quando há mais vida nas partes, há mais vida no aglomerado composto por elas.”

“As pessoas de génio são, como o próprio termo indica, mais individuais do que as outras pessoas - menos capazes, portanto, de se ajustarem sem uma compressão prejudicial, a qualquer dos poucos moldes que a sociedade providencia de modo a poupar aos seus membros o esforço de formarem o seu próprio carácter.”


“O espírito de desenvolvimento nem sequer é um espírito de liberdade, pois pode ir no sentido de impor melhorias contra a vontade de um povo; e o espírito da liberdade, na medida em que resiste a tais tentativas, pode aliar-se local e temporariamente aos inimigos do desenvolvimento; mas a única fonte inabalável e permanente de desenvolvimento é a liberdade, dado que através dela há tantos centros possíveis de desenvolvimento independente como indivíduos. Contudo, o princípio do progresso, quer sob a forma de amor à liberdade, quer sob a forma de amor ao desenvolvimento, é antagónico à influência do costume, envolvendo pelo menos emancipação desse jugo; e a disputa entre os dois constitui o palco onde se joga a história da humanidade.”


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MILL, John Stuart, Sobre a Liberdade, Edições 70, Lisboa, 2006

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